O PODER DA ELOQUÊNCIA, COM OU SEM INTELIGÊNCIA


João Teodoro da Silva
Presidente – Sistema Cofeci-Creci – 08/FEV/2025
(Neurocientista Comportamental)

George Orson Welles, nascido em Kenosha, Wisconsin, EUA, em 06 de maio de 1915,
faleceu aos 70 anos em Los Angeles, Califórnia. Foi ator, diretor, escritor e produtor e iniciou carreira
no rádio em 1934. Quatro anos depois, começou a produzir peças de radioteatro para a rádio CBS. Na
ocasião, com base no clássico de ficção de H. G. Wells, A Guerra dos Mundos, Orson, em formato de
noticiário, dramatizou um texto com tal eloquência e realismo que milhares de pessoas, sem perceber
que se tratava de encenação, em pânico, fugiram de suas casas.
Eloquência e inteligência são características humanas frequentemente interligadas,
mas podem se manifestar de formas distintas. Enquanto a inteligência diz respeito à capacidade de
adquirir conhecimento, raciocinar logicamente e resolver problemas, a eloquência se concentra na
habilidade de expressar ideias de maneira clara, persuasiva e cativante, embora nem sempre de forma
honesta. Ser eloquente não significa que o argumentador seja inteligente. Aliás, não raro, eloquência
não passa de retórica, sem qualquer conteúdo realmente louvável.
Alguém pode dominar a arte da retórica, utilizando palavras e expressões impactantes
para transmitir as suas ideias, sem que isso signifique que elas sejam necessariamente profundas ou
originais. A eloquência pode ser usada para persuadir e emocionar. Contudo, em boa parte das vezes,
não passa de mera manipulação, independentemente da veracidade ou da qualidade do conteúdo
que se pretenda transmitir. A inteligência, por sua vez, nem sempre revela eloquência, mas pode ser
a base para a construção de sólidos e consistentes argumentos.
O case de Orson Welles, com sua transmissão radiofônica A Guerra dos Mundos, é um
rico e notável exemplo de como a eloquência pode ser usada para persuadir e influenciar um grande
número de pessoas, independentemente da veracidade do conteúdo. Welles, com sua voz cativante
e sua narrativa envolvente, conseguiu convencer milhares de ouvintes de que a Terra estava sendo
invadida por alienígenas, causando pânico e histeria em massa. No Brasil, o jornalista e político Carlos
Lacerda encantava seus ouvintes com sua envolvente retórica.
A falta de eloquência pode limitar a capacidade de alguém para influenciar, persuadir
ou compartilhar seu conhecimento com o mundo. Por isso a inteligência pode ser interpretada como
pré-requisito para a boa eloquência. Um indivíduo inteligente, com bom domínio do conhecimento e
da linguagem, pode desenvolver facilmente a capacidade de se expressar de forma clara, coerente e
persuasiva. A inteligência fornece a base necessária para a construção de argumentos sólidos, com
palavras precisas e adaptação do discurso a quem ele é dirigido.
A eloquência, que não implica inteligência, ou vice-versa, exige o desenvolvimento de
habilidades, como falar em público, comunicação corporal e uso de recursos retóricos. Ela pode ser
aprimorada com prática e estudos. A inteligência, inerente a todo ser humano, precisa de estímulos
cerebrais para ser aperfeiçoada. Ambas podem ser benéficas ou danosas. Mas a inteligência, ainda
que não eloquente, pode produzir o bem. A eloquência, contudo, com ou sem inteligência, pode ser
muito danosa. Sem produzir nada de bom, pode causar muito mal!